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Casa-ateliê na Rua do Sossego abriga farol para o Porto do Recife

Paula Schver
Paula Schver
Publicado em 23/09/2014 às 19:55
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O farol traz um casal aos beijos, celebrando o amor / Foto: Mariana Dantas/NE10

O farol traz um casal aos beijos, celebrando o amor Foto: Mariana Dantas/NE10

A idade e a fama nunca acomodaram Abelardo da Hora. Aos 90 anos, o artista plástico trabalhava todos os dias e ainda buscava realizar sonhos. O ateliê, localizado na casa 307 da Rua do Sossego, no Centro do Recife, onde Abelardo também morava, guarda verdadeiros presentes para os seus admiradores. Obras recém-finalizadas, que seu criador pretendia apresentar ao público até o fim do ano, como o farol que ele desejava instalar na entrada do Porto do Recife. A escultura traz um casal aos beijos, celebrando o amor, agarrado ao sol.

Carlos José foi assistente de Abelardo por mais de 25 anos

Carlos José foi assistente de Abelardo por mais de 25 anos

"Meu avô estava muito entusiasmado com esse projeto. Ele fez questão de montar a engrenagem que faz a estrela do sol girar em 360º e vibrou quando terminou a escultura", conta o professor universitário Rodrigo da Hora, 46 anos. O modelo feito em concreto possui pouco mais de um metro de altura. Mas a escultura final, pensada para a entrada do Porto do Recife, deveria ter mais de oito metros. "Ele apresentou a proposta à Prefeitura do Recife, que ficou bastante interessada. Estava elaborando o orçamento final do trabalho para poder apresentá-lo", explica Rodrigo.

 



Como o modelo já está finalizado, a obra pode ser concretizada sem perder os traços do seu criador, através da impressão 3D que possibilitaria a confecção de um molde em maior dimensão. Desde o início da carreira, Abelardo da Hora fazia questão de participar de todo o processo do seu trabalho e preferia confeccionar seus moldes manualmente, utilizando o gesso. Mas, no início do ano, após ser convencido que a impressão em 3D é uma ferramenta que facilita o artista e não altera o seu trabalho, Aberlardo se rendeu à tecnologia. O molde da escultura "O artilheiro", inaugurada no último dia 31 julho na Arena Pernambuco, foi o primeiro trabalho em que o artista pernambucano usou o equipamento.

O busto de Gregório Bezerra ainda conserva o barro molhado

O busto de Gregório Bezerra ainda conserva o barro molhado

Assistente de Abelardo da Hora há mais de 25 anos, Carlos José do Monte, 46 anos, lembra como família e amigos tiveram dificuldade em convencê-lo. "Depois de fazer a escultura no barro, ele gostava mesmo era pegar no gesso para modelar. Ficava ao meu lado o tempo todo, acompanhando o processo. Aprendi muito com ele e nunca vou esquecer da sua alegria. Perdi um amigo", disse o assistente, que foi descoberto por Abelardo quando realizou um trabalho de pedreiro na casa dele. "Ele viu que eu gostava de trabalhar com gesso e cimento e me chamou para ajudá-lo", conta. 

OBRAS INACABADAS - Entre tantas esculturas espalhadas por todos os cantos do ateliê na Rua do Sossego, algumas ainda aguardavam os últimos traços do seu criador. Coberto com um pano úmido, um busto em homenagem a Gregório Bezerra ainda conserva o brilho do barro molhado e as marcas dos dedos de Aberlado da Hora. "Antes de sair de casa para ir ao hospital, meu avô trabalhou nesta escultura. Ele não parava quieto. As várias obras em andamento comprovam isso", relembra Rodrigo da Hora.

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Em frente ao busto de Gregório Bezerra, uma estrutura de madeira já estava montada para receber mais uma das mulheres de Abelardo, conhecidas pelos seios fartos e quadris avantajados. O protótipo, com um pouco mais de 30 cm, foi deixado estrategicamente em um lugar visível, para onde Abelardo pudesse olhar enquanto esculpia 

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A sua "última deusa", chamada por ele "Mulher Reclinada", foi concluída há cerca de dois meses

O GRANDE SONHO - Abelardo da Hora tinha o desejo de dividir com outros sua paixão pela arte. Um dos seus grandes sonhos era ver funcionando o Instituto Abelardo da Hora, que deveria oferecer muito mais do que uma exposição permanente do artista. O projeto, assinado pelo amigo e arquiteto Carlos Augusto Lyra, prevê a construção de salas para a realização de cursos gratuitos de artes plásticas. O terreno, comprado há 10 anos pelo próprio Abelardo, localiza-se atrás do ateliê. "Ele acreditava que o instituto ajudaria a revelar novos artistas", conta Rodrigo da Hora. O Instituto já possui empresa jurídica, mas o projeto ainda não saiu do papel por falta de recursos.

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O terreno do Instituto, comprado há 10 anos pelo próprio Abelardo, está atrás do ateliê

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