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Valor musical do frevo é tão grande quanto o cultural

Davi Saboya
Davi Saboya
Publicado em 09/02/2017 às 8:17
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Maestro Forró está buscando uma sistematização do frevo para melhorar o entendimento por parte dos músicos / Foto: Igor Bione/Arquivo JC Imagem

Maestro Forró está buscando uma sistematização do frevo para melhorar o entendimento por parte dos músicos Foto: Igor Bione/Arquivo JC Imagem

Nesta quinta-feira, 9 de fevereiro, o frevo completa 110 anos. Porém, ele é muito mais antigo. A data ficou marcada pelo fato de o pesquisador Eduardo Rabelo ter registrado a primeira vez em que foi divulgada a nomeclatura em um jornal de pequeno porte no Recife. Muito antes, o ritmo era entoado na capital de Pernambuco. Mas mesmo sendo praticado em tanto tempo, não é fácil de ser tocado. Dominar uma partitura, ainda atualmente, é uma arte que requer grande habilidade, prática e estudo. O que o deixa ainda mais importante no mundo da música. 

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Um dos grandes nomes do frevo em Pernambuco, o Maestro Forró destaca que o compreendimento do ritmo pelos músicos é mais difícil por não existir uma sistematização definida. Segundo ele, exige um grande entendimento das técnicas. Para se ter uma ideia, Forró estuda desde os 12 anos, quando em 1988, entrou para banda música da Escola Dom Vital, na Zona Norte do Recife. 

"O frevo é carregado de técnicas que exige dos instrumentistas um grande estudo para poder executar bem. Diria que para poder tocar é preciso ter um grande conhecimento. A facilidade ou dificuldade está relacionado com a falta de uma sistematização, o que diferencia dos outros ritmos. Em qualquer lugar do mundo você compra um método de jazz e qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, vai poder executar. Quando eu comecei era muito mais difícil, não existia lugar para estudar", afirmou Forró. 

Maestro Forró se destaca pela maneira descontraída de reger a orquestra

Maestro Forró se destaca pela maneira descontraída de reger a orquestraFoto: Alexandre Belém/Arquivo JC Imagem

No século passado, o pianista e estudioso da música Waldemar de Oliveira registrou que existem três tipos do ritmo: o frevo de rua, o frevo de bloco e frevo canção. Desses, o primeiro ganhou três variáveis. O coquerinho, que explora as partes agudas dos instrumentos de sopro; o frevo ventania, parece um redemuinho de vento (popularmente falando) e é abordado pelo saxofone; e o abafo, mais simples, utilizado pelos blocos de rua do Recife e de Olinda e que as orquestras usam quando se encontram com a intenção de uma abafar o som da outra.

O jovem trumpetista pernambucano Marcos de Luna, 19 anos, começou a tocar com instrumentos emprestados há sete anos. "O frevo para mim é algo que faz parte da nossa cultura. Não enxergo dificuldade porque está dentro da gente", destacou o estudante.

O interesse de Marcos surgiu por amor ao frevo. Após cerca de oito anos estudando no Centro de Criatividade Musical do Recife, ele atualmente estuda em casa, mas não desistiu do sonho de espalhar o ritmo pernambucano pelo mundo. "Vou me sentir realizado quando disseminar o frevo pelo mundo", contou.

Na visão do jornalista e crítico musical Jose Teles, o grande valor musical do frevo se deve à grande habilidade que é necessária para executar. "O frevo é uma música única, difícil de compor, é um dos gêneros musicais mais originais do País. Autor e frevo lá fora geralmente é gente feito Tom Jobim, Dori Caymmi, Egberto Gismonti, ou seja, grandes músicos", frisou.

De acordo com Teles, a falta de uma renovação no frevo se deve à pouca divulgação e ao mercado, que mesmo com novas músicas, não tem espaço para as novidades. "Primeiro porque não não se toca novos frevos no rádio, nem na TV. Depois porque o modelo do carnaval do Recife não incentiva a que se cante frevos, porque não se exige que as atrações cantem apenas músicas carnavalescas. Ainda se continua a fazer muito frevo, os compositores, novos e velhos, continuam criando, mas não tem mais mercado para novidades. Só se tocam clássicos", finalizou. 

 

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