A atriz Robin Bartlett, o ator britânico Tim Roth e o diretor mexicano Michel Franco. Foto:LOIC VENANCE / AFP
Escolhido pelos organizadores do festival uma semana depois do anúncio oficial da competição pela Palma de Ouro, "Chronic" não tem cara de azarão. Franco estuda como uma doença afeta o cotidiano de uma família, analisando discretamente fatores como egoísmo, paranoia e como altruísmo chega a ser uma característica impossível no ser humano.
A inspiração para o personagem de Roth, em um dos melhores papeis de sua carreira, veio do próprio cineasta, que perdeu a avó em 2010.
"Ela ficou doente e passou vários meses presa na cama até morrer", disse Franco em entrevista após a exibição do filme. "Fiquei emocionado e intrigado pelas enfermeiras que cuidaram dela. E decidi fazer um filme disso quando perguntei para a mulher que cuidou de minha avó se ela se apegava a todos os pacientes. Ela apenas sorriu gentilmente para mim."
Ironicamente, o mexicano diz que "evita pensar na morte", mesmo tendo dirigido "Chronic" e "Depois de Lúcia", dois longas que orbitam em torno do tema. "É contraditório, mas o cinema é a melhor maneira para investigar profundamente esses temas."
Tim Roth, que desponta como um dos candidatos ao prêmio de melhor ator, passou por treinamento com quatro enfermeiras para alcançar a dedicação do seu personagem nas telas.
"Tim tem uma sensibilidade parecida com a minha, então trabalhei junto dele para desenvolver o roteiro", explicou Franco, que recebeu o prêmio da mostra Un Certain Regard por "Depois de Lúcia", há três anos, das mãos do americano -presidente do júri naquele ano. "Normalmente, um ator demora duas semanas para responder se topar participar de um filme, mas ele falou que gostaria de falar sobre o projeto depois de duas horas. Não havia nenhum ego nele."
"Chronic" enfrenta uma das competições mais acirradas dos últimos anos, mas o impacto do longa mexicano ultrapassa prêmios ou eventos festivos. Não apenas pelas cenas fortes com os doentes terminais. Mas pelo que passa em poucas palavras. É um filme que fica grudado na mente e no estômago.
Mesmo que cause um mal-estar no fim -os jornalistas, em Cannes, não vaiaram e nem aplaudiram ao subir dos créditos. Cinema, afinal, não é só deslumbramento.