Quem Foi Que Inventou o Brasil?

A história do Brasil contada e 'cantada' em livro de Franklin Martins

Germana Macambira
Germana Macambira
Publicado em 03/09/2015 às 18:30
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O jornalista e escritor Franklin Martins é o destaque da Fenelivro nesta sexta, no Centro de Convenções de Pernambuco / Foto: divulgação

O jornalista e escritor Franklin Martins é o destaque da Fenelivro nesta sexta, no Centro de Convenções de Pernambuco Foto: divulgação

Era 1889. Os ares republicanos fervilhavam com manifestações estudantis contrárias ao Império. E, mais especificamente em frente à Academia de Medicina do Rio de Janeiro, havia um ponto de encontro dos estudantes que se tornou um ícone da República: o tabuleiro de laranjas da jovem mulata Sabina. Um local considerado subversivo pelo governo e, portanto, tinha que ser banido.

Protestos iniciados, decisão revogada e Sabina se tornaria, a partir dali, um dos marcos do mercado fonográfico brasileiro, com os versos do dramaturgo Arthur Azevedo gravados tempos depois e tornando As Laranjas da Sabina uma das primeiras músicas gravadas no País.

Deixar que as músicas contem a história do Brasil foi o intuito do jornalista e escritor Franklin Martins quando lançou a trilogia Quem Foi Que Inventou o Brasil?, que será apresentada nesta sexta (4), às 20h, na Sala Deborah Brennand, na I Feira Nordestina do Livro (Fenelivro), no Centro de Convenções de Pernambuco. O acesso é gratuito.

“Não existe fato político relevante que não tenha sido objeto de uma música que, se não vem concomitante ao fato, é feita logo em seguida”, ressaltou o autor  em entrevista ao Portal NE10.

De fato. A começar pelo título da obra - uma marchinha de Lamartine Babo, sucesso no Carnaval de 1934 - ,não há fatos históricos nos três volumes da obra que não tenham sido vinculados a composições. Começando pelo início da República (1889) até o Golpe de 1964, passando pela redemocratização (1985) e chegando às eleições presidenciais de 2002, com acontecimentos ilustrados por composições inspiradas pelo burburinho da época.

“Nós temos um vasto acervo de músicas produzidas sobre a política no Brasil. Fiz um longo trabalho de pesquisador, elencando os compositores de cada época, que deixavam os seus recados de acordo com o período da história”.

Na Sala Deborah Brennand, a trilogia Quem Foi Que Inventou o Brasil? é tema de palestra na feira

Na Sala Deborah Brennand, a trilogia Quem Foi Que Inventou o Brasil? é tema de palestra na feiraFoto: divulgação

Os mais de cem anos de fatos históricos do País foram contados e 'cantados' nos três volumes do livro, que guardam uma compilação com mais de mil composições com ilustrações, imagens e relatos que descrevem o paralelo das melodias com o calor dos acontecimentos.

Sobre a época da ditadura, por exemplo, o frevo Bloco da Vitória, composto em 1964 por Nelson Ferreira, traz o notório entusiasmo da vitória do movimento militar que havia derrubado, meses antes, o presidente João Goulart:

O Bloco da Vitória está na rua,

 desde que o dia raiou.

 Venha minha gente pro nosso cordão, 

que a hora da virada chegou ô, ô, ô”.

“Havia uma relação imediata com o fato. E, para a música popular brasileira, foi um período de ebulição. Impossível ignorar a relação da história com as composições que, no final, eram recados muito claros. As letras de Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos, por exemplo, deixam alguma dúvida do desejo do Roberto Carlos, quando chegou de Londres, em visita ao Caetano (Veloso)?”, comentou Franklin, que passou 18 anos debruçado sobre esse trabalho de pesquisa. “Começou como um hobby, se tornou cachaça até, finalmente, se transformar em livros”, completou, com bom humor.

De nomes da música pernambucana, Franklin Martins fez alguns registros. A canção Vozes da Seca, de Luiz Gonzaga, integrou um dos períodos da democratização:

“Seu doutô os nordestino tem muita gratidão.

 Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão.

Mas doutô uma esmola a um home qui é são,

ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidaão".

De Chico Science, A Cidade condiz com o capítulo que o autor intitula com o questionamento: Que País é Este?

“Temos um acervo de verdadeiras crônicas musicais. Das marchas de Carnaval  aos raps atuais, a produção fonográfica se aproxima com muita força da realidade política e social que nos acompanha, ora com sátira, ora com humor e deboche”, salientou o jornalista, que também já ocupou o cargo de Ministro Chefe da Secretaria de Comunicação Social no mandato do ex-presidente Lula.

Nas páginas dos três volumes da obra, nomes como Chico Buarque, Juca Chaves, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Sérgio Ricardo, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Gonzaguinha, Odair José, Marco Polo (Ave Sangria) e Taiguara e outras centenas de compositores e intérpretes da música brasileira ajudam na reflexão da história do Brasil, cantando. Ao autor restou o papel de (re)contar os versos fazendo um 'link' aos acontecimentos.

"Estou satisfesto com o resultado, pela contribuição de discutir a história de uma maneira diferente", contou, com ares de dever cumprido ressaltando, ainda:: "Nós não paramos de fazer música. A periferia que o diga, com as mensagens cantadas em versos de funk, de samba-reggae, de repente e de outros ritmos que hoje perfazem a história do Brasil".

Trechos do livro Quem Foi Que Inventou o Brasil? podem ser lidos e músicas que integram a trilogia podem ser ouvidas no site www.quemfoiqueinvetouobrasil.com.

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