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Mulheres encaram a transição capilar e assumem os cachos

Giovanna Torreão
Giovanna Torreão
Publicado em 28/05/2016 às 17:00
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Ana Cristina trabalha com transição capilar no Salão Anastácia / Foto: Giovanna Torreão / NE10

Ana Cristina trabalha com transição capilar no Salão Anastácia Foto: Giovanna Torreão / NE10

Luíza Leão passou pelo processo transição

Luíza Leão passou pelo processo transiçãoFoto: Reprodução / Facebook

Chapinha, escova, progressiva, definitiva, inteligente, relaxamento. Os métodos para alisar os cabelos são muitos, mas e para quem quer voltar ao natural? Chamado de transição capilar, o processo de deixar para trás os fios lisos e assumir o visual original pode ser demorado e exige muita paciência e força de vontade.

De acordo com o professor de Estética e Cosmética da Faculdade dos Guararapes Kleber Andrade, o tempo da transição varia conforme o tempo de crescimento do cabelo de cada um. "Este é um procedimento que consiste em livrar os fios da química, sendo assim, é preciso esperar que eles cresçam. A média é de um centímetro por mês, mas em algumas pessoas isso é mais rápido e em outras é mais devagar. Não existe fórmula imediata, é um processo que requer paciência", conta.

Após quase 10 anos de alisamento, a psicóloga Maria Luíza Leão, 23 anos, optou por ir devagar e enfrentou um longo processo. "Era até uma questão psicológica, eu não ia para praia ou molhava o cabelo na frente dos meus amigos. Também não tive na adolescência figuras públicas com cabelos cacheados em quem me inspirar e achava que meu cabelo precisava ser liso para ser bonito", conta, destacando que temia que não gostasse do cabelo com cachos. "Eu não sabia cuidar, mas eu comecei a procurar pessoas que estavam passando pelo mesmo processo e discutir maneiras de cuidar, foi um apoio importante", diz.

Com os tratamentos químicos, o ph do couro cabeludo é afetado, enfraquecendo os fios que estão para nascer, lembra o professor. "Por isso, o cabelo virgem vai crescer ainda influenciado pelos produtos alisantes [o chamado Scab Hair; ver imagem abaixo], até que o folículo capilar esteja recuperado. Ou seja, é preciso um tempo para que o cabelo apresente sua forma original", destaca Kleber Andrade. Enquanto isso, hidratações frequentes e uma boa alimentação são importantes para garantir mechas saudáveis.

Durante o processo, inevitavelmente, as duas diferentes texturas, do cacheado e liso, serão evidenciados, afirma a cabeleireira Ana Cristina Nascimento do Salão Anastácia, especializado em cabelo afro. "Para enfrentar a transição capilar, existem algumas opções como ir cortando aos poucos a parte alisada, cortar toda a química do cabelo e assumir um visual curtinho (Big Chop) ou aprender a lidar com as duas texturas".

Uma alternativa bastante utilizada para quem não quer radicalizar no curtinho ou mesmo perder o comprimento, é trançar. "Vai disfarçar as duas texturas e fica bonito. Nós vamos cortando aos poucos conforme fazemos a manutenção das tranças até que esteja em um tamanho legal para soltar e deixar só o cacheado ou crespo natural", completa.

Técnicas 'No Poo' e 'Low Poo'

Com o objetivo de evitar o ressecamento dos fios pelo uso de sulfato, presente nos shampoos, o “No Poo” (sem shampoo) consiste na troca do produto por outros métodos de limpeza para deixar os fios limpos e hidratados. Já no “Low Poo” (pouco shampoo) são utilizados shampoos mais suaves, que não contém sulfato. Estas técnicas, de forma geral, funcionam bem para cabelos cacheados e crespos, uma vez que eles tendem a ser mais ressecados.

Revolução Crespa

Mais que retirar toda a química dos alisamentos, para as pessoas negras a transição capilar  é ainda uma forma de buscar a identidade. Na plataforma multimídia “Revolução Crespa”, o internauta encontra depoimentos pessoais, bem como um recorte político, econômico e social sobre a transição capilar.

“Apliquei escova progressiva no meu cabelo cacheado por 11 anos. Depois de assistir a uma palestra sobre empoderamento negro, comecei a me questionar se escondia meu cabelo porque não gostava dele ou porque tinha aprendido a não gostar”, afirma Amanda Souza, que desenvolveu o projeto com Bianca Bion. As autoras, que criaram o site como trabalho de conclusão de curso em 2015, também tratam do tema na página do Facebook Revolução Crespa.

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