A Porta da Alegria

Em entrevista ao NE10 Oswaldo Montenegro 'cantou' em homenagem a Alceu Valença

Germana Macambira
Germana Macambira
Publicado em 14/08/2015 às 8:38
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O cantor e compositor Oswaldo Montenegro faz show nesta sexta (14), no Teatro Guararapes / Foto: Lívio Campos

O cantor e compositor Oswaldo Montenegro faz show nesta sexta (14), no Teatro Guararapes Foto: Lívio Campos

 São várias as facetas de Oswaldo Montenegro. Além de cantor e compositor ele pode ser chamado, também, de poeta e trovador. E é exatamente com as rimas de uma espécie de 'trovador contemporâneo' - como ele mesmo denominou as (novas) batidas do seu mais recente trabalho A Porta da Alegria - que ele volta aos palcos do Recife com o show homônimo, nesta sexta (14), no Teatro Guararapes.

O som é mais 'pesado'. Diferente da sua passagem por aqui com o show 3 x 4, que se caracterizou por harmonias mais acústicas. " Até canções como A Lista e Bandolins vêm com uma banda forte: teclados, guitarras, baixo e bateria", salientou Oswaldo, reforçando que essa nova roupagem se parece com o início de sua carreira.

A propósito... O lado 'cineasta' de Oswaldo Montenegro passa a integrar a sua agenda ainda neste semestre. Ele já está na produção de dois longas-metragens. O 'cara' é ou não é o que se pode chamar de "artista plural'? Confira a entrevista concedida ao Portal NE10:

NE10 -   Em A porta da alegria você volta a trabalhar com Mongol. A parceria sempre foi garantia de 'bons frutos', não é?

Oswvaldo - Sim, fomos criados juntos no Grajaú (Zona Norte do Rio de Janeiro). Temos esse tipo de afinidade, de quem jogou bola junto na infância. Normalmente cada um faz suas músicas, mas é como se existisse uma terceira pessoa, que surge quando a gente compõe junto. É uma coisa muito interessante.

 NE10 - Quais as (novas) características dessa turnê, se compararmos com 3 x 4, que marcou a sua última vinda a Pernambuco?

Oswvaldo - É quase que o avesso. O que era totalmente acústico virou um som pesado, mais carregado de emoção. No 3x4 a variação era a tônica. Cada bloco era uma coisa totalmente diferente. Agora, privilegiamos o que está entre “uma balada e um blues”, como Sempre não é todo dia e a própria música título, A Porta da Alegria. Mesmo canções como A Lista e Bandolins vêm com uma banda forte: teclados, guitarras, baixo e bateria. É bem parecido com o início da minha carreira. Uma espécie de clima de trovador contemporâneo, uma coisa de quem veio da serenata de Minas Gerais, só que nos tempos de agora.

 NE10 -  Oswaldo agora 'assume', de vez, o lado trovador?

Oswvaldo - Sim. No 3x4 tinha tudo o que eu gosto. Nesse, A Porta da Alegria, é tudo o que sou. Por incrível que pareça, são duas coisas bem diferentes.

NE10 - No youtube o clipe de A porta da alegria ganhou adeptos rapidamente. Isso confirma a receptividade do público ao seu trabalho, consolidado em mais de três décadas de carreira...

Oswvaldo - Fiquei muito feliz com o sucesso da música. A gente nunca sabe como vão receber nossa arte. Procuro não pensar nisso na hora em que estou compondo. É um mistério legal de não saber.

NE10 -  Você se considera um poeta? Haja vista o seu repertório regado, sempre, de declamações musicadas. 

Oswaldo - Adoro poesia. Sou filho de uma professora de literatura que até hoje troca comigo frases de versos que gostamos. Ao mesmo tempo, comecei profissionalmente pela música, como instrumentista. Me vejo mais assim. Mas é muito difícil avaliar a gente mesmo. É uma coisa que tento não fazer. Acho que causa muito sofrimento, ao artista, traçar qualquer julgamento que seja sobre o que ele faz. Tento não olhar pra isso, com todas as forças. Sempre comemoro o prazer de trabalhar no que amo e mando as flechas sem pensar qual é o alvo e sem definir de que tipo elas são.

O músico está em turnê pelo País com o show A Porta da Alegria

O músico está em turnê pelo País com o show A Porta da AlegriaFoto: Claúdio Machado


NE10-  A fidelidade em incluir Recife/Olinda em suas turnês decorre da plateia cativa que você tem por aqui?

Oswaldo - Não só disso. É um povo extremamente artístico. É um público diferente, talentoso. Pernambuco tem contribuído em todas as áreas artísticas de maneira impressionante, no cenário brasileiro. Na literatura, na música, no cinema e nas artes plásticas, tem sempre alguém fazendo coisa interessante. A plateia reflete isso e é um prazer tocar pra gente assim.

NE10 - Das perguntas de praxe: o que não pode faltar, no palco, entre os clássicos de sua carreira?

Oswaldo - Normalmente pedem muito Bandolins, Intuição, Lua e Flor. Mas com a internet, tem acontecido uma coisa muito interessante: as músicas mais pedidas nunca toquei na TV. Por exemplo, A Lista, Metade, Eu quero ser feliz agora, Sem mandamentos e a própria música título do show, A Porta da Alegria. Acho muito legal isso. Recebemos milhares de pedidos da música A Lógica da Criação, do nosso filme Solidões, que nunca toquei em lugar nenhum, e vamos tocá-la. Estamos numa época em que o paradigma foi mudado. Estou adorando isso. 

NE10 - E o blues? Desde quando te acompanha como influência?

Oswaldo - Desde Brasília. Entrou na minha vida e se misturou com a seresta de São João Del Rei, onde passei minha infância. Por isso que digo que esse novo show está entre “uma balada e um blues” que, inclusive, já deu nome a um disco que fiz há muito tempo.

NE10 -  Quais os planos para este semestre, para o próximo...

Oswaldo - Estarei rodando o Brasil com a nova turnê A Porta da Alegria e estou em fase de produção de dois filmes longa-metragem. 

NE10 - 10 - Sobre a música pernambucana, alguma ressalva?

Oswaldo -É uma música maravilhosa. Tem uma força e uma personalidade que poucos lugares do mundo geram. Através do meu amigo Alceu Valença, já compus em homenagem ao talento pernambucano: “Nem todo Alceu é Valença” (Oswaldo Montenegro)

Oswaldo compôs Nem Todo Alceu é Valença, em homenagem à musicalidade pernambucana

Oswaldo compôs Nem Todo Alceu é Valença, em homenagem à musicalidade pernambucanaFoto: Divulgação

 “Nem todo amor é bandido, todo sonho é legal

Nem todo beijo é ardido, toda paixão é fatal

Nem todo abraço é à vista, todo mundo é artista

Nem um ponto de vista vai ser ponto final

Nem todo corpo se encaixa, todo afeto é moral

Nem todo mundo se abaixa pro chicote do mal

Nem todo mundo se alegra, todo mundo se esfrega

Nem todo amante se entrega, etc e tal

Nem todo exame avalia, nem toda foto é fiel

Nem toda festa é folia, nem toda lua é de mel

Nem todo Alceu é Valença, nem todo não é ruim

Nem todo sonho é doença, nem todo breque é o fim

Nem todo Léo é de Bia, nem todo amigo é irmão

Nem toda virgem Maria, nem todo sim é pois não

Nem toda ação é coragem, nem todo aviso é sermão

Nem toda trilha é viagem, nem todo intento é ação

Nem todo amor é bandido, todo sonho é legal

Nem todo beijo é ardido, toda paixão é fatal

Nem todo abraço é à vista, todo mundo é artista

Nem um ponto de vista vai ser ponto final

Nem todo corpo se encaixa, todo afeto é moral

Nem todo mundo se abaixa pro chicote do mal

Nem todo mundo se alegra, todo mundo se esfrega

Nem todo amante se entrega, etc e tal

Nem toda moça é sozinha, nem todo mundo é de um só

Nem todo amigo é vizinho, nem todo amor vira pó

Nem toda escola te ensina, nem todo acerto valeu

Nem toda história termina quando o começo morreu

Nem todo amor é bandido, todo sonho é legal

Nem todo beijo é ardido, toda paixão é fatal

Nem todo abraço é à vista, todo mundo é artista

Nem um ponto de vista vai ser ponto final

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