Despedida

Corpo de Naná Vasconcelos é sepultado ao som do maracatu no Recife

Marina Padilha
Marina Padilha
Publicado em 10/03/2016 às 11:45
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Não faltou batuque na despedida de Naná em Santo Amaro / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Não faltou batuque na despedida de Naná em Santo Amaro Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Esqueçam o tradicional minuto de silêncio. No sepultamento do músico Naná Vasconcelos, nesta quinta-feira (10), no cemitério de Santo Amaro, área central do Recife, o adeus foi ao som da percussão de mais de 20 nações de maracatu. Forte e poderoso, o batuque preencheu o lugar e os corações de centenas de pessoas que estiveram presentes para a despedida do artista pernambucano. Todos acompanharam as homenagens com palmas, fazendo sons com o corpo, como o percussionista costumava criar seus primeiro batuques.

Além dos familiares, como os irmãos Cenilda e Jurandir, a viúva Patrícia Vasconcelos e a filha Luz Morena, artistas como os cantores Cristina Amaral, Otto, Lira e Cannibal estiveram presentes no sepultamento do mestre. Entre os anônimos, homens, mulheres, crianças que mostravam sua admiração pelo homem que foi eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo.

Sepultamento do percussionista #NanáVasconcelos, no Recife

Publicado por NE10 em Quinta, 10 de março de 2016

Professora de dança, dona Dulce prestou sua última homenagem à Naná

Professora de dança, dona Dulce prestou sua última homenagem à Naná Foto: Amanda Miranda/NE10

"Naná abraçou o mundo com música. O que a gente vê hoje aqui, em cada rosto, é alegria e saudade, e eu sou alegria e saudade", afirmou a professora de dança Dulce Siqueira, 68 anos e quarenta carnavais. Para ela, Naná era um dos maiores ícones da cultura de Pernambuco.

O corpo de Naná Vasconcelos foi velado entre a tarde da quarta-feira (9) e esta quinta na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. Por volta das 10h, o caixão deixou o prédio coberto pelas bandeiras do Santa Cruz e de Pernambuco e ao som da música “Asa Branca”. Os batuqueiros do grupo Nação Sol Nascente fizeram a música do cortejo. Familiares, amigos e admiradores seguiram de mãos dadas pelas ruas do Recife, acompanhando o caminhão do Corpo de Bombeiros que levou o músico até o local do sepultamento.

Naná Vasconcelos morreu na manhã dessa quarta, aos 71 anos, vítima de um ataque cardíaco enquanto estava internado num hospital particular do Recife, lutando contra um câncer de pulmão. A doença foi diagnosticada no ano passado e, mesmo assim, ele vinha trabalhando no lançamento de um novo CD, que agora deve ser lançado com a ajuda da viúva Patrícia Vasconcelos.

INTERNAÇÃO - O músico pernambucano estava internado no Hospital Unimed III, na Ilha do Leite, desde o dia 29 de fevereiro devido a complicações causadas por um câncer de pulmão. Ele se sentiu mal após participar de um show em Salvador, na Bahia, ao lado de Carlinhos Brown. Naná descobriu o câncer no ano passado, quando ficou mais de 20 dias hospitalizado para tratamento. Depois, passou por sessões de quimioterapia e, mesmo com a saúde debilitada, chegou a produzir um último trabalho com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit, o Café no Bule.

CARREIRA - Juvenal de Holanda Vasconcelos, ou Naná Vasconcelos, nasceu no Recife em 2 de agosto de 1944. O pai, músico, lhe passou o gosto pela arte e o filho começou cedo. Aos 12 anos já se apresentava em bares e participava de grupos de maracatu locais.

Aprendeu primeiro a tocar bateria. Depois, berimbau e não parou mais: ao longo da carreira, uma das características da sua percussão era usar qualquer objeto que produzisse um som interessante para compor seus trabalhos.

Naná começou a ser conhecido nacionalmente ao mudar para o Rio de Janeiro, na década de 1960, e tocar com o mineiro Milton Nascimento e o também pernambucano Geraldo Azevedo.

Em seguida, sua carreira deslanchou no exterior. Morou nos Estados Unidos e na França, compôs trilhas sonoras para filmes e recebeu oito Grammys, um dos maiores prêmios de música do mundo.

Eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat, Naná Vasconcelos chegou a fazer parcerias com artistas como B.B. King e Ella Fitzgerald.

Fruto do aprendizado informal da música, sem nunca ter cursado nível superior, em dezembro de 2015, o artista recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 

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