Dia do Rock

Álbuns que refletiram comportamentos de suas épocas

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 13/07/2016 às 7:06 | Atualizado em 13/08/2020 às 14:18
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Listas sempre rendem discussões, mas não vamos fugir à responsabilidade de sugerir uma pequena lista de álbuns que refletem o clima da época. Claro que a qualidade musical dos artistas entra na conta, porém não foi o primeiro critério:

Elvis Presley (1956)

 

 

Só o fato de ser o primeiro álbum do Rei (ou Messias para John Lennon) já merece estar na lista. Mas a primeira coleção de canções do cantor mostra a coragem de um homem branco de voz negra hipnotizar multidões de uma sociedade bastante segregada. A terceira música do LP é 'I Got a Woman', música de Ray Charles. Na lista ele também ataca de 'Tutti Frutti', o clássico de Little Richard, que além de negro era homossexual assumido. Mais pretensioso para a década de 1950, impossível.

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A Hard Day's Night (1964) - The Beatles

Embora o antecessor, With The Beatles (1963) seja um primor de música, é a Hard Day's Night que representa o auge da Beatlemania. O disco é a trilha sonora do filme de mesmo nome, que apresenta toda histeria em torno dos quatro cabeludos de Liverpool. Melodias fáceis de assobiar, baladas açucaradas e um trabalho formidável de George Harrison coram o primeiro lançamento da banda com cem por cento das músicas compostas pela dupla Lennon/McCartney.

The Velvet Underground and Nico (1967) - Velvet Underground

Não se engane com a introduçao da música que abre o disco, 'Sunday Morning', ao som de caixa de música. A estreia do Velvet Underground é uma coleção de referências a sexo, sadomasoquismo e, principalmente drogas, de uma forma crua como até então não se ouvira. Bem ao gosto do amargo fim dos anos 1960, que começaram coloridos e terminaram afundados em preto e branco. Toda a parte suja de Nova Iorque é retratada brilhantemente nas letras de Lou Reed e no zumbido lancinante da viola de John Cale.

The Dark Side of the Moon (1973) - Pink Floyd

A viagem composta por Roger Waters e David Gilmour tinhas várias referências depressivas. Começa com 'Brain Damage, uma referencia ao fundador da banda, Syd Barret, expulso pelo comportamento excêntrico e irresponsável que mais tarde foi diagnosticado como esquizofrenia. 'Time e 'Breath' criticam o vazio ideológico da sociedade da Inglaterra, enquanto 'Money' ataca o consumismo.

Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols (1977) - Sex Pistols

Toda agressividade do punk condensadas em 38 minutos e 47 segundos. A técnica limitada e barulhenta de Steve Jones, Glen Matlock e Paul Cook foi o pano de fundo perfeito para os xingamentos e desprezo dos versos de Johnny Rotten. 'God Save The Queen' tomou emprestado o título do hino inglês para um tributo nada lisonjeiro à Sua Majestade: "Deus salve a Rainha/Regime facista o transformam em um imbecil". Também fazia um autorretrato da própria geração em 'Pretty Vacant': "Somos bonitos, bem vazios e estamos nos lixando".

Power, Corruption & Lies (1983) - New Order
O segundo álbum do New Order iniciou a guinada da banda para a música eletrônica. Em Power... Bernard Summer, Peter Hook, Stephen Morris e Gillian Gilbert misturavam suas influências pós-punk - os três primeiros membros citados acima eram remanescentes do Joy Division - com teclados e sintetizadores. As letras ainda traziam o clima sombrio mas o ritmo dançante mostrava bem a proposta de misturar que se tornou característica naquele início de década. O estilo ficou conhecido como Dance Rock.

Appetite For Destruction (1987) - Guns N' Roses

A tecladeira e visual limpinho das bandas de heavy metal usavam até meados da década - vide Motley Crüe e Poison - foram atirados na lata do lixo pelo quinteto californiano. A 'santíssima trindade' sexo, drogas e rock and roll impregnava Appettite... do berro que abre o álbum com 'Welcome to the Jungle' ao acorde final de 'Rocket Queen'. Referências explícitas a drogas ('Mr. Brownstone') e a capa retratando um estupro recém-consumado completavam a lista de pecados do disco, que chegou a circultar com uma capa alternativa: uma cruz com cinco caveiras representando os membros da banda.

Nevermind (1991) - Nirvana

Kurt Cobain, principal compositor da banda, abusa da distorção num disco rápido agressivo, que remonta ao individualismo e comodismo da Geração X. Irônico, agressivo e com diversas referências à apatia que tomou conta daquela galera. "Aqui estamos, agora nos entretenha", ruge Cobain no refrão do clássico Smells Like Teen Spirit. Lithium lembra de abuso de remédios para tratar da bipolaridade.

Ok Computer (1997) - Radiohead
O sistema operacional windows 95 lançado em 1995 mudaria para sempre a relação do homem com o computador. Dois anos depois, o Radiohead lançava o seu conceitual Ok Computer, um álbum que trata da tecnologia devorando o homem e comandando o mundo moderno. Por mais que a economia colocasse os países mais dependente uns dos outros, o ser humano isolava-se cada vez mais em suas máquinas. Ok... mostrava essa doença, dando voz a andróides e computadores.

The Strokes (2001) - Strokes
Bem que os Strokes tentaram ser indie. Mas a sociedade de consumo não perdoa ninguém, ainda mais se você tem um som básico, melódico e bem executado. As referências marcantes ao som dos anos 1960 acertaram em cheio o coração da juventude do início dos anos 2000. O visual parecendo recém-saído de um brechó contribuiu para o ar retrô da banda, que virou febre mundial a cabo de hits como 'Last Nite' e 'Someday'.

21 (2011) - Adele

Quando o mundo ainda juntava os cacos da crise estourada em 2008 a britânica Adele fez o mesmo com seu coração, partido com o fim de um relacionamento. A intenção era trazer algo mais alegre. Porém, sua vida pessoal a levou a cantar sobre dor e depressão. A referência ao número 21 é pela idade da cantora na época em que o álbum era gerado. "Eu ouvi dizer que você está estabilizadoQue você encontrou uma garota e está casado agoraEu ouvi dizer que os seus sonhos se realizaramAcho que ela lhe deu coisas que eu não dei", lamenta ela em 'Someone Like You'. Mas também sabe ser vingativa em 'Rolling In The Deep': "Querido, não tenho nenhuma história a ser contada/Mas ouvi uma das suas E eu vou fazer a sua cabeça queimar".

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