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Kurt Cobain faria 50 anos. E o que faria hoje se estivesse vivo?

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 20/02/2017 às 7:15
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Kurt Cobain não soube lidar com o sucesso e enveredou pelo caminho da autodestruição. / Foto: Divulgação

Kurt Cobain não soube lidar com o sucesso e enveredou pelo caminho da autodestruição. Foto: Divulgação

É difícil visualizar Kurt Cobain aos 50 anos, que ele completaria neste 20 de fevereiro, não é? Por isso, tentamos conjecturar como o vocalista, guitarrista e principal compositor do Nirvana estaria hoje, se tivesse sobrevivido a si mesmo, quando deu um tiro de espingarda na própria cabeça no dia 5 de abril de 1994, encerrando sua trajetória neste planeta com parcos 27 anos. O Nirvana estaria junto? Para quem opinou, era bem difícil continuar. E o que ele se tornaria, um roqueiro velho e cansado, um recluso ou partiria para outra forma de expressão artística?

O crítico musical do Jornal do Commercio, José Telles, sequer acredita que, por quem era Cobain, haveria alguma chance de ele chegar a meio século. "Ele era tão autodestrutivo que se não morresse aos 27 anos, talvez morresse aos 28, 29", avalia. Vencida essa possibilidade, o jornalista não via futuro de o Nirvana sobreviver junto com seu líder.

Para Telles, o vício em heroína e os problemas pessoais de Kurt o colocariam em carreira solo. "Os outros caras não teriam aguentado. Quando se entra muito pesado nas drogas, o cara se torna insuportável". Algo que ele compara com Jim Morrison e os Doors. Quando Jim morreu em 1971 já havia deixado bem claro aos companheiros que a banda era coisa do passado e ele se dedicaria à literatura.

Nessa possível nova carreira, o crítico musical vislumbraria um estilo de música menos barulhento que punk/pop/grunge que fez a fama do trio no inicio dos anos 1990. "Acho que ele teria evoluído, pois era um grande compositor. Acho que estaria num estilo mais suave. Muitos dos compositores principais das bandas daquela época seguiram carreira solo", aponta. Outra faceta que o músico poderia ter desenvolvido seria o envolvimento com causas sociais ou ecologicas. "Ele era um cara muito sensível, poderia ter se tornado um roqueiro engajado".

O músico pernambucano Ricardo Chacon, vocalista da S.Ou.S e do Bailinho Maravilha também vai nessa hipótese. Para ele, a maturidade traria mais diversificação musical e também no teor das letras. Na juventude, Kurt abusou da raiva e da frustração. Um Kurt cinquentão talvez tivesse deixado isso para trás. "Com a idade, a pegada rock estaria mais madura, assim como suas letras. Com menos ódio, depois de superadas as frustrações da fase pós separação dos pais, o que foi bastante significativa pra sua obra. Já teria superado, eu acho, hoje em dia. Isso muda muita coisa. Boas melodias surgiriam. Letras menos carregadas de frustrações.

Direto de Porto Alegre, o músico Antônio Silva, vocalista e guitarrista da Bleach Nirvana Cover acredita que Kurt Cobain poderia se entragar a outras formas de expressão, como pintura ou a própria poesia à qual Jim Morrison planejava se dedicar.

"Kurt não era somente músico ele tinha outros talentos como o dom de saber escrever e usar bem as palavras, poderia também ser um artista plástico, como se pode ver na capa do álbum Incesticide", diz, lembrando que a arte da capa da coletânea foi desenhada pelo guitarrista. 

Assim como Telles, Antônio também visualiza uma possibilidade de Cobain alterar seu estilo ao longo do tempo que não lhe coube. Embora acredite que ele jamais abandonaria o rock, poderia adotar ao seu catálogo outros estilos musicais. Ele cita até uma das bandas brasileiras que o norte-americano gostava, os Mutantes. "Kurt gostava de muitos gêneros dentro do Rock e além disso sempre conhecia alguma banda do país onde iria tocar".

Também no Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, Matheus da Rosa é um dos membros do LiveNirvana, um fã-clube da banda que reúne gente de todo mundo. Para ele, o Nirvana também estava fadado ao fim. Sobre o futuro do roqueiro, ele acredita que o caminho mais provável seria entrar nas artes plásticas. No fundo, Matheus acredita que se ele não houvesse se tornado um ícone do rock provavelmente ainda estaria por aqui. "O Kurt sempre gostou de desenhar, talvez essa fosse sua arte favorita, talvez se não tivesse entrado pra música, estaria vivo até hoje. Ele não queria ser um rockstar, queria apenas tocar, fazer shows, mas a fama que veio junto com a banda o incomodou fazendo o lhe tirar a própria vida".

Amigo de Lady Gaga?

A relação com outros artistas também poderia surpreender. O fã do Nirvana aponta um possível bom relacionamento com a cantora Lady Gaga. A personalidade dela fora dos padrões seria algo que Kurt admiraria e, até certo ponto, ele compartilhou no auge de sua banda. "Ele se vestia sem se importar com o que os outros. Usou looks ousados em algumas entrevistas. Isso lembra os figurinos de Gaga", teoriza.

Chacon acha que Cobain seria avesso a homenagens

Chacon acha que Cobain seria avesso a homenagensFoto: Divulgação

Ricardo Chacon tambem vislumbraria um Cobain bem avesso à ribalta. Coisa que ele já era no auge do Nirvana e poderia ser potencializado na velhice. Talvez uma versão cinquentona do que é Bob Dylan, que sequer foi receber o Prêmio Nobel de Literatura que recebeu.

"Poderia ser que faltasse a algumas premiações, simplesmente não indo recebê-las. Ele não valorizava isso. Mal entendia porque fazia sucesso. Acho que ele seria excêntrico, como Bob Dylan, que mandou retirar do seu site o título que recebeu de Nobel de literatura. Gênios que não lidam bem com bajulação e hipocrisias sociais."

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