COBERTURA

Público do Recife viu o verdadeiro show de Amy Winehouse

Ne10
Ne10
Publicado em 14/01/2011 às 4:00 | Atualizado em 05/12/2022 às 13:42
Leitura:

Com direito a queda no palco, quebra de protocolo, confusão no set list, letras esquecidas e muitos tropeços por nítida embriaguez, Amy Winehouse deixou cair o corpo e a máscara e finalmente cedeu. O show no Recife Summer Soul Festival, na noite desta quinta-feira, no Centro de Convenções, foi um autêntico espetáculo da cantora britânica, em que ela dispôs suas maiores virtudes -  a impressionante voz e a força das canções que se tornaram hits universais – e fraquezas (a fragilidade ao álcool, o comportamento desregrado e quase nenhuma finesse no palco), que fazem dela a Amy que conquistou o mundo, com sua música e seus escândalos.

A diva pop chegou ao Recife num jato fretado e foi direto para o evento. Por volta da 0h30, como era previsto, subiu ao palco e abriu a voz com Just friends. Cheia de sorrisos, mesmo sem falar diretamente para o público, conquistou a platéia com Back to black, que animada com sua inusitada desenvoltura, vibrou e correspondeu. Mais alguns goles, e veio Tears dry on their own.

Quando chegou a hora do já esperado cover de Boulevard of Broken Dreams, Amy travou e esqueceu a música. O show foi interrompido, a banda disfarçou e voltou já com os acordes de I'm on the Outside Looking In, clássico de Little Antony and Imperials. Daí emendou com algumas baladas menos conhecidas. Até que o show esquentou novamente com o hit Rehab.

LEIA TAMBÉM
1 - Vários cliques de quem curtiu o Recife Summer Soul Festival
2 - Thiago Lacerda desceu para a galera
3 - Mayer e Janelle: boas surpresas na noite
4 - A Amy Pernambucana que roubou a cena
5 - E não é que Amy levou um tombo?
6 - Mais cliques da turma que passou por lá

A banda assumiu o comando com o espirituoso Zalon Thompson, Amy saiu de cena. Quando voltou serelepe ao palco, ensejou uma pirueta de bailarina e tombou no chão. Mas ela não perdeu o rebolado e seguiu tropegamente o show, errando letras, se esquivando, tentando fugir do show e sendo sempre amparada pela banda para que continuasse. Houve até uma brincadeira de desentendimento, simulando tapas e beijos entre Winehouse e Zalon.  A britânica também tentou conversar com os espectadores, perguntando se queriam ouvir a banda, mas o público mal a entendia e ela ficou visivelmente aborrecida.

Amy fez várias pausas para consultar o repertório e retomar o show, e ainda cantou displicentemente Me and Mr Jones e You know I am no good . O sucesso Valerie era esperado para o fim, já no bis, mas a cantora embalou assim mesmo, ignorando o set list e a executou. O fim era esperado. Todos deixaram o palco.  E veio o grande suspense da noite: ela volta?

Voltou uns 2 minutos depois, com You wondering now e Love is a loosing game. Após 1h20 de show, o mais longo até agora no Brasil,  lá se foi Amy sem dizer adeus, mas deixando o Recife, como sempre, com controvérsias sobre a sua perfomance, seja ela artística ou personalística.

Depois de três shows da turnê brasileira (um em Florianópolis e dois no Rio de Janeiro), tentando conter-se no palco, tomando água mineral, com tamanho esforço cuja sisudez  lhe rendeu críticas pela apatia e indiferença com o público, a cantora mostrou na capital pernambucana sua alma aprisionada. Assim, foi mais fácil, aos goles em uma caneca misteriosa, interagir com o público, rebolar, tirar os sapatos, sair de si e afastar o fantasma da monotonia.  Como dizem as letras de Rehab e You know I am no good, não adianta tentar reabilitar a diva, é de sua natureza, ela não faz o tipo boa moça. Quem se decepciona espera por uma Amy irreal.  Quem queria vê-la como ela é, ficou satifesto. O balanço é proporcional às expectativas.

Abertura -  Às 22h30, Mayer Hawthorne abriu a noite e tentou interagir com o público ainda disperso que estava chegando ao pavilhão. Convidou a platéia a se aproximar e fez de tudo para empolgar com seu som de funk  e soul bem setentista. Quando a estratégia não funcionava, valia contar histórias, fazer piadas como comparar sua aparência retrô nerd com o Peter Park de Tobey Maguire (Homem-aranha) e até soltar covers populares de Snoop Dogg – Gangster Luv e Beautiful.

Mas quem realmente levou o público ao delírio foi Janelle Monàe. Com batidas eletrônicas e uma banda arrojada, mostrou que o molho da Black music, apesar de globalizada e revisitada com excelência por nomes como Duffy e a própria Amy, pertence aos negros. Fez as quase 12 mil pessoas que ocuparam o pavilhão dançarem e cumpriu sua promessa “Dance or die” (dance ou morra), feita na abertura futurista do show.  Nada - nem mesmo o penteado que se desfez - abalou a competência e o domínio de palco da cantora que ainda surpreendeu com uma sensualíssima dança e perfeitos passos de moonwalk (imortalizados por Michael Jackson).  Sem altos e baixos, manteve o ritmo impactante e sedutor, mesmo nas variantes entre batidões e suaves melodias. Com momentos altos como a bela Smile e a animada Sincerely, Janelle foi a melhor atração da noite.