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Puebla: crenças aos pés do vulcão

Gustavo Belarmino
Gustavo Belarmino
Publicado em 05/09/2015 às 21:35
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O impressionante cenário exibe o vulcão ao fundo e o santuário de Nossa Senhora dos Remédios, construído sobre gigantesca base piramidal em Cholula / Foto: Ricardo Espinosa-reo/divulgação

O impressionante cenário exibe o vulcão ao fundo e o santuário de Nossa Senhora dos Remédios, construído sobre gigantesca base piramidal em Cholula Foto: Ricardo Espinosa-reo/divulgação

PUEBLA - Aos pés do Popocatepetl, que atualmente está cuspindo fumaça, existem vilarejos que convivem em uma relação simbiótica com o vulcão. Ali cultivam suas plantas e criam seus animais, acreditando em uma força maior que os avisará se um dia o adormecido resolver acordar em chamas. A crença diz que a alma do vulcão, batizada de Don Goyo, permanecerá adormecida enquanto oferendas forem depositadas em um lugar especial. Para lá são levadas frutas e estátuas, para conter a fúria do gigante.

Outra corrente acredita haver no cume do vulcão um movimento extraterrestre, com ovnis surgindo à noite e desaparecendo no centro da montanha. Lendas ou não, o fato é que é atribuída a uma forte atividade vulcânica o abandono da pirâmide pelo povo ancestral que viveu ali 500 anos antes de Cristo (a.C).

Sob a estrutura piramidal, turista pode percorrer túneis que mostram etapas construtivas

Sob a estrutura piramidal, turista pode percorrer túneis que mostram etapas construtivasFoto: Gustavo Belarmino

Hoje a Zona Arqueológica de Cholula, a 15 km de Puebla, é uma das mais relevantes do México. Sobre o imenso basamento piramidal – encoberto por terra e vegetação – foi erguido um santuário católico pelos jesuítas, “que não sabiam que abaixo da edificação estaria um templo de paganismo e idolatria”, explica o antropólogo Martín Cruz Sanchez, responsável pelo pequeno museu que faz parte do complexo.

Segundo Sanchez, uma das hipóteses é de que o abandono, talvez motivado por movimentos tectônicos, teria feito com que os blocos entrassem em erosão e que sementes ali depositadas pelos pássaros tivessem disfarçado o monumento, séculos depois descoberto pelos arqueólogos que construíram redes de túneis para desvendar o que se sabe do local até agora.

A curiosa e riquíssima igreja de Santa Maria Tonantzintla, em Cholula

A curiosa e riquíssima igreja de Santa Maria Tonantzintla, em CholulaFoto: divulgação

A história religiosa na região – e no México, como um todo – mistura elementos da cultura pré-hispânica, europeia e indígena. Percorrer as igrejas de Cholula é perceber claramente esse sincretismo em sua mais alta expressão. A decoração da igreja de Santa Maria Tonatzintla (ao centro), por exemplo, é em barroco indígena.

Todas as paredes – em sua base verde, marrom e vermelho – são preenchidas com figuras tribais (inclusive os anjos e santos, que trazem penachos na cabeça), frutas, milhos, pimentas e até a representação do deus Haloc, da chuva.

Já na capital, Puebla, monumentos são repletos de misticismo. O corpo da princesa mongol Mirra, sequestrada por piratas portugueses aos nove anos de idade e posteriormente adotada por pais de Puebla, está enterrado na igreja que fica ao lado da ex-casa da personagem. Reza a lenda que a garota passou quatro anos nas mãos dos piratas, sofrendo até ser resgatada.

Chegou a casar-se, mas por se considerar impura, não gerou filhos. Perdeu o marido e os pais adotivos cedo e por isso precisou oferecer trabalhos domésticos, vivendo na casa onde morreu. Percebendo a movimentação em torno da China Poblana, a igreja apagou todos os vestígios e tratou de enterrar o corpo, para que ela não fosse venerada em outro templo que não o católico.

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Rua 5 de Mayo, por por onde passa diariamente um milhão de pessoas - em frente à direta vai dar na rua dos doces - Gustavo Belarmino
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Na esquina da Rua 5 de Mayo, a belíssima Igreja de Santo Domingo (1659). Repare nesse altar com 4 níveis - Gustavo Belarmino
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Igreja de Santo Domingo, com capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário: barroco e muito ouro - Gustavo Belarmino
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Na capela de Nossa Senhora do Rosário, azulejos datam de 200 anos e trazem querubins em alto relevo - Gustavo Belarmino
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O magnífico teto da Igreja de Santo Domingo, com o Espírito Santo ao centro - Gustavo Belarmino
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Que tal esses docinhos espalhados na rua dos doces, que tem cheirinho de baunilha? - Gustavo Belarmino
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As talaveras, arte característica de Puebla, encontrada em fachadas e até nas placas das ruas - Gustavo Belarmino
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Templos católicos são encontrados por todas as esquinas de Puebla - Gustavo Belarmino
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Oficina vende e ostra como é feita a técnica da talavera, em Puebla - Gustavo Belarmino
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Bairro do Artista, com exposição nas ruas, atrai quem quer tomar uma cervejinha e esperar a noite cair - Gustavo Belarmino
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Em frente ao Principal (1535), letreiro de Puebla mostra o colorido da cidade - Gustavo Belarmino
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Na fachada da igreja cor de rosa, dedicada ao Senhor das Maravilhas, muitas flores enfeitam a entrada - Gustavo Belarmino
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A rua ideal para comprar artesanato, no fim do Bairro do Artista - nesta foto, ao cair da tarde - Gustavo Belarmino
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Docinhos de toda sorte - e muita alegria, feita de amaranto, são ofertados nas ruas - Gustavo Belarmino
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À noite Puebla se transforma em cidade-balada - Gustavo Belarmino
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Do Zócalo, a praça principal, se vê o Popocateplt soltando fumaça ao fundo - Gustavo Belarmino
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Detalhe da iluminação cênica, que dá vida aos prédios da capital à noite - Gustavo Belarmino
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Interior da igreja do Senhor das Maravilhas. Ao centro a imagem venerada - Gustavo Belarmino
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Beleza da iluminação cênica dos prédios de Puebla - Gustavo Belarmino
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No Cerro Guadalupe, show de luz convida o público a conhecer os povos mágicos de Puebla - Gustavo Belarmino
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Detalhe de uma das salas fechadas ao público, na Catedral de Puebla - Gustavo Belarmino


* O jornalista viajou a convite da Copa Airlines, Conselho de Promoção Turística do México,  Secretarias de Turismo Ciudad de México e de Puebla

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