Urbanismo

No Recife, grafite chama atenção por conectar arte à natureza

Gustavo Belarmino
Gustavo Belarmino
Publicado em 25/01/2017 às 13:56
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Muros grafitados são resposta para uma cidade sem cor. Em destaque, o artista Kbça / Foto: Luiz Pessoa/NE10

Muros grafitados são resposta para uma cidade sem cor. Em destaque, o artista Kbça Foto: Luiz Pessoa/NE10

É comum vermos pela cidade do Recife muros cinzas, brancos, sem cor. Quando isso acontece também é corriqueiro encontrar pichações tomando conta desses mesmos espaços. E aí vem a respostas a esse problema: azulejos e pastilhas. Mas, alguns moradores usam da criatividade para dar cores à sua residência e à rua, como é o caso do jornalista Ed Ruas, que fez do muro de sua casa uma tela para a pintura do artista Moisés Jesus da Silva, mais conhecido como Kbça. A obra, uma mulher negra com um lenço, de onde saem flores coloridas (reais), tem chamado atenção por onde é compartilhada


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Imagem do preview postada pelo NE10 teve mais de 3 mil compartilhamentos

“Quando eu aluguei essa casa, pintei de branco e decidi que não queria deixar ela desse jeito. Queria fazer alguma coisa e por isso chamei o Kbça, que conheço desde a época do colégio. Eu acho engraçado que encaixou exatamente com o momento que a gente está vivendo agora com Dória, em São Paulo, apagando os grafites. Nós usamos a pintura em muro desde os tempos das cavernas. Para mim, o grafite é uma forma de expressão”, afirma Ed. “Acho que essa intervenção é um fomento. Precisamos sair do padrão, é bom trazer um colorido para a cidade. A rua vai ficar mais divertida depois disso”, complementa.

A rua vai ficar mais divertida depois dissoEd Ruas, jornalista

A pintura não é a única intervenção artística na casa do morador. Ed possui também em uma de suas paredes um desenho do jornalista e cartunista Samuca. “Diferente da pintura do muro, essa de Samuca foi algo inesperado. Eu tinha destinado uma parede para as pessoas que viessem na minha casa deixarem uma mensagem, daí quando ele veio se empolgou com o lápis e fez o desenho”, conta.

A intervenção vem chamando tanta atenção que a dona de uma clínica veterinária vizinha à casa também já chamou o artista para desenhar na parede do prédio. "Um amigo que mora em Porto de Galinhas também me procurou interessado em fazer na casa dele. É uma arte que naturalmente ilustra os espaços públicos mas as pessoas estão tomando para si", comemora.

O artista por trás da intervenção

Kbça trabalha geralmente com pedidos feito sob encomenda, mas também é responsável por muitas das concepções artísticas dos trabalhos que realiza, como foi no caso do muro da residência de Ed. “Ele estava preocupado de picharem o muro e sugeriu fazer algo. Como ele queria algo interagindo com a árvore, pensei logo na mulher negra que possui uma beleza única, junto com a ideia do turbante colorido se conectando com a planta. Depois apresentei três desenhos e chegamos a esse que está aí”, relembra Kbça.

Já há 15 anos trabalhando com pintura, tudo começou quando Kbça foi introduzido aos desenhos aerografrados, técnica de pintura e ilustração semelhante ao grafite, mas que utiliza aerógrafos, equipamento que utiliza ar comprimido para espirrar a tinta. E o artista foi desenvolvendo o talento pela pintura de forma natural, sem nunca ter feito um curso na área. “Um colega me apresentou esse tipo de desenho que ele fazia em camisas. Eu achei bonito e mais tarde comecei a ter contato com o pessoal do grafite de rua apesar de nunca ter praticado.”, comenta o artista. “Comecei a praticar desenho ainda no colégio. No início era tudo muito simples, eu pintava camisas, o que não dava muita oportunidade de evoluir tecnicamente. Eu fui desenvolvendo minha arte com os trabalhos que eu iam surgindo”, complementa.

Foto de Kbça viralizou antes do grafite ser concluído

A viralização começou a partir de uma postagem do NE10 (veja acima) e, a partir daí, a arte feita no Recife se espalhou, sendo compartilhada por atores como cantoras como Maria Rita e atores, como Thaila Ayala e Regiane Alves, como forma de protesto para medidas da prefeitura de São Paulo contra este tipo de trabalho. Confira algumas:

 

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