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No México, Puebla reserva roteiro de pura magia

Gustavo Belarmino*
Gustavo Belarmino*
Publicado em 05/09/2015 às 20:16
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À noite, a cidade de Puebla revela a fachada das igrejas que, durante o dia, encantam pela riqueza em seu interior / Fotos: Gustavo Belarmino

À noite, a cidade de Puebla revela a fachada das igrejas que, durante o dia, encantam pela riqueza em seu interior Fotos: Gustavo Belarmino

Puebla, a 130 quilômetros da Cidade do México, está nas cercanias dos sete “povos mágicos” do Estado de mesmo nome, assim considerados por reunir costumes, gastronomia, arquitetura e festividades religiosas suficientes para receber o título. Embora não tenha a chancela oficial do governo federal, não existe definição melhor que magia para traduzir a capital colonial de 3,5 milhões de habitantes que, mesmo com essa densidade populacional, ainda guarda ares de cidade do interior, cordialidade e tradições que se perpetuaram pelos séculos.

Riqueza do barroco no interior das igrejas: lenda diz que cordões de ouro desenharam a cidade

Riqueza do barroco no interior das igrejas: lenda diz que cordões de ouro desenharam a cidadeFoto: Gustavo Belarmino

Cercada por quatro vulcões – um deles o Popocatepetl, atualmente em atividade –, Puebla foi fundada pelos espanhóis em 1531 e viveu importantes marcos não só para história do país, quanto para o próprio continente. Das muitas lendas que tentam explicar a sua origem, uma conta que o lugar nasceu de um sonho: anjos teriam descido com cordões de ouro e com eles feito o traçado da cidade, daí o nome “Puebla de los Angeles”. A crença talvez justifique a quantidade de ouro que adorna o interior das igrejas, com seus querubins, flores, frutas e centenas de símbolos que transformam Puebla em um importante destino do turismo religioso mundial, sendo conhecida como o “relicário das Américas”.

Considerada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1987 devido ao seu conjunto arquitetônico colonial, possui 2.315 prédios tombados, que foram erguidos nos séculos 16 e 17. Percorrer as ruas do centro é mergulhar em um passado mais remoto que a própria conquista hispânica. Ali viveram civilizações antigas, que deixaram vestígios que nem a ciência conseguiu explicar: como a imensa base piramidal, na vizinha Cholula (esse, sim, oficialmente um povo mágico), que por séculos acreditou-se um morro e sobre o qual se construiu um santuário católico, dedicado a Nossa Senhora dos Remédios.

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Outro dito local costuma repassar que a cidade conta com uma igreja para cada dia do ano. Não é bem assim, mas os 128 templos católicos poderiam vir com um alerta: visitar as igrejas pode deixar o turista com torcicolo. São tantas e tão trabalhadas edificações – repletas de talavera, um tipo de cerâmica muito difundida localmente – que difícil mesmo é conseguir capturar todos os detalhes.

Seguindo pela Avenida Juarez, com esculturas e palmeiras que nos fazem esquecer que estamos a 2.162 metros de altura e a quatro horas e meia de Vera Cruz, a praia mais próxima, chegamos até a Rua 5 de Mayo. A rua de pedrinhas, por onde passa diariamente um milhão de pessoas, abriga a Igreja de Santo Domingo (1659), onde foi celebrada, pelo frei Turíbio Predez de Benavente, a primeira missa do País.

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Ao seguir até a nave central, prepare-se para deslumbrar-se com o imenso altar todo entalhado em madeira, gesso e ouro, com anjos e santos que se sucedem até o teto. À esquerda, vê-se a capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, destaque à parte dentro da estrutura. Decorada com o exagerado barroco churrigueresco, trabalho que demorou 60 anos para ser concluído, o templo surpreende. “Aqui, tudo que brilha, é ouro”, garante com orgulho o guia Alfredo Torres, advogado por formação, católico por fé, e poblano por convicção.

Entre as curiosidades da igreja, conta Alfredo, estão as figuras de cachorros espalhadas pelas pinturas e esculturas no interior do templo. Estão ali por representar a fidelidade dos animais aos homens e consequentemente do homem a Deus. Das imagens ainda conseguimos perceber figuras de sereias incrustadas nas colunas (a santa é padroeira dos navegantes) e querubins em alto relevo nos azulejos que datam de 200 anos, representando cada mistério do Rosário.

As frutas com pimenta estão por todo lugar

As frutas com pimenta estão por todo lugarFoto: Gustavo Belarmino

Ao deixar a igreja, o cheiro de baunilha no ar conduz o turista até a Rua 6 Orientes, também conhecida como rua dos doces. Diversas lojinhas oferecem dos coloridíssimos pirulitos a cocadas e maçãs do amor – claro, temperadas com pimenta em pó, como manda o costume mexicano. Por lá, barrinhas com cereais também estão por toda parte, a mais emblemática é a Alegria, feita com amaranto, primo da quinoa e considerado um superalimento. Leva mel e outros grãos, como amendoim e até semente de abóbora e são ótimas para levar como lembrancinhas.

Tabuleiros exibem ainda os Camotes de Puebla, doce de batata com açúcar e canela com sabores diferentes, e potinhos rústicos com doce de tamarindo, revelando apenas uma das facetas gastronômicas da cidade – que ostenta mais de 7 mil restaurantes. No passeio entre os doces você já estará habituado a ver nas lojinhas e paredes das casas coloniais um trabalho feito em cerâmica que lembra as porcelanas chinesas, chamado talavera.

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Por lá, a técnica chegou em 1550, trazida pelos dominicanos, ganhou as cores do México e se estabeleceu como tradição poblana. Na mesma rua é possível visitar uma das oito fábricas artesanais de talavera. Na loja La Colonial, além de comprar peças como aparelhos de jantar, suportes e artigos de decoração, o turista pode ainda participar de uma aula que mostra como é a técnica que consiste em moldar, pintar manualmente e esmaltar o objeto, que ganha um brilho vitrificado e posteriormente um assinatura do artista, como um certificado de autenticidade. Cada peça pode levar até 20 dias para ficar pronta. O turista vai perceber que até as placas das ruas são feitas de talavera e, com o olhar mais treinado, as verá por toda a parte.

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Rua 5 de Mayo, por por onde passa diariamente um milhão de pessoas - em frente à direta vai dar na rua dos doces - Gustavo Belarmino
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Na esquina da Rua 5 de Mayo, a belíssima Igreja de Santo Domingo (1659). Repare nesse altar com 4 níveis - Gustavo Belarmino
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Igreja de Santo Domingo, com capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário: barroco e muito ouro - Gustavo Belarmino
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Na capela de Nossa Senhora do Rosário, azulejos datam de 200 anos e trazem querubins em alto relevo - Gustavo Belarmino
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O magnífico teto da Igreja de Santo Domingo, com o Espírito Santo ao centro - Gustavo Belarmino
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Que tal esses docinhos espalhados na rua dos doces, que tem cheirinho de baunilha? - Gustavo Belarmino
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As talaveras, arte característica de Puebla, encontrada em fachadas e até nas placas das ruas - Gustavo Belarmino
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Templos católicos são encontrados por todas as esquinas de Puebla - Gustavo Belarmino
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Oficina vende e ostra como é feita a técnica da talavera, em Puebla - Gustavo Belarmino
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Bairro do Artista, com exposição nas ruas, atrai quem quer tomar uma cervejinha e esperar a noite cair - Gustavo Belarmino
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Em frente ao Principal (1535), letreiro de Puebla mostra o colorido da cidade - Gustavo Belarmino
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Na fachada da igreja cor de rosa, dedicada ao Senhor das Maravilhas, muitas flores enfeitam a entrada - Gustavo Belarmino
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A rua ideal para comprar artesanato, no fim do Bairro do Artista - nesta foto, ao cair da tarde - Gustavo Belarmino
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Docinhos de toda sorte - e muita alegria, feita de amaranto, são ofertados nas ruas - Gustavo Belarmino
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À noite Puebla se transforma em cidade-balada - Gustavo Belarmino
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Do Zócalo, a praça principal, se vê o Popocateplt soltando fumaça ao fundo - Gustavo Belarmino
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Detalhe da iluminação cênica, que dá vida aos prédios da capital à noite - Gustavo Belarmino
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Interior da igreja do Senhor das Maravilhas. Ao centro a imagem venerada - Gustavo Belarmino
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Beleza da iluminação cênica dos prédios de Puebla - Gustavo Belarmino
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No Cerro Guadalupe, show de luz convida o público a conhecer os povos mágicos de Puebla - Gustavo Belarmino
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Detalhe de uma das salas fechadas ao público, na Catedral de Puebla - Gustavo Belarmino

* O jornalista viajou a convite da Copa Airlines, Conselho de Promoção Turística do México,  Secretarias de Turismo Ciudad de México e de Puebla

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